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sábado, 26 de setembro de 2009

A LENDA DAS PEDRAS DE ITAGUAÇU

LENDA DAS PEDRAS DE ITAGUAÇU
Autoria: Claudete T. da Mata
(Texto escrito em 2007 e Publicado no Recanto das Letras/16/05/2009/T1597111)
A história que vou contar, é uma lenda popular, que pode ser encontrada em relatos do ilhéu "Franklin Cascaes" e do seu seguidor, popularmente conhecido, por "Peninha". Sendo assim, as possíveis semelhanças, são meras coincidências. Conheci esta lenda, na década de 80, quando uma idosa, ao me ouvir falar sobre  as bruxas da Ilha de Santa Catarina, me fez uma pergunta muito simples: __ Minha filha,  já ouvisse falar da história das pedras  da ponta da Praia de Itaguaçu? A resposta foi imediata: __ Nunca ouvi nada a respeito. Foi então que pela primeira vez, ouvi alguém falar sobre esta Lenda, a qual me deixou noites e noites intrigada, mas que após muitas reflexões sobre tudo o que ouvi, é que registrei cada palavra que me visitou a mente. Em 2006, quando participei do Curso de Contador de Histórias, do SESC/PRAINHA/FPOLIS,  tomei conhecimento dos contos do primeiro autor supra citado, e mais tarde do segundo (Peninha). Mas, agora é hora de conhecer o conto que escrevi.

Há muitos anos atrás, de madrugada, numa sexta-feira de lua cheia, lá na beira da praia do Itaguaçu, na época um grande gramado em Coqueiros – Florianópolis, Santa Catarina, um bando de bruxas muito malvadas, que tinham o costume de roubar as canoas dos pescadores para os seus passeios noturnos, resolveu dar uma festa, convidando todos os seres elementares, menos um, o capeta. 
Acontece, que o coisa-ruim, desconfiado, resolveu fazer a ronda para ver como as coisas estavam. Mas, a sua bruxa preferida: uma benzedeira de zipra, zipela e zipelão, espinhela caída, carne quebrada, nervo torto e mal olhado, também saiu naquela noite para ver se o demo andava por perto. Pois bem sabia ela, que se ele soubesse da tal festa, colocaria tudo a perder. 
Pois, o malvado só comparecia nas festas para abusar das bruxas. Elas já não aguentavam mais as suas sacanagens. Ele só aparecia nas festas para dar tapas, beliscões, mordidas e chicotadas nas bundas das bruxas. Isso, quando o tinhoso não ficava cutucando cada uma delas com o seu enorme rabo. Envolvidas nas urgias do capeta, as bruxas acordavam no dia seguinte, em suas casas sem o fado, com o corpo dolorido, com marcas roxas por todos os lados. Não era a toa que os seus maridos ficavam intrigados com o que viam.
Ao aproximar-se do ambiente festivo, o capeta pôde sentir o cheiro das bruxas e ouvir as suas frenéticas gargalhadas. E vendo que fora traído pelas bruxas, por ele tão cobiçadas, o tinhoso enfurecido, ajeitou os chifres embaixo do chapéu e o rabo sob sua vestimenta, cobrindo-se com um manto preto e esfarrapado, ficou de espreita, no meio de um pé de manguezal para dar o grande bote.
Camuflado, o capeta foi chegando de mansinho e adentrou na grande festa, disfarçado de mendigo. Nesse momento, o descarado pediu às bruxas, com voz roca e suplicante: __Um pedaço pão e um copo de água, por favor...! Ao verem aquele homem esfarrapado, com cheiro de bode, pedindo pão e água, as bruxas caíram na gargalhada: ­­__Sai daqui coisa feia, mistura de cruz credo com aquilo, horroroso, nem o coisa-ruim é tão feio e fedido como tu! Ahahahahaha...
Sem saber, todas as bruxas zombaram do capeta. Mas ele, tinhoso como sempre, continuou no disfarce, insistindo no pedaço de pão e no copo de água. Até que a bruxa mais velha do bando resolveu atender-lhe o pedido, dando-lhe uma migalha de pão oco e seco, e um copo de vinagre. 
Assim que o safado mordeu o pão e bebeu o vinagre, ficou enfurecido..., perdeu um dente e cuspiu fogo na direção de todos os convidados.
Nesse momento o mar ficou revolto, chamando o vento sul, que apagou as luzes das velas e das lamparinas que clareavam aquela noite escura. Foi então, que as mãos, os braços e as pernas das bruxas começaram a encolher..., com as suas orelhas e nariz desaparecendo. 
As ondas do mar inundaram todo o campo verde, arrastando todos, fincando cada “Ser Elementar” no seu lodo salgado.  E lá na beira da praia, o capeta exclamou aos urros e de bom tom: 
__Não me convidaram para a festa, é? Nem quiseram me servir, muito menos me respeitar. Suas ingratas... Em vez d’água me deram vinagre e em vez de pão me deram um torrão. São só fofocas, maldades e traição. Desta vez terão seu troco; de agora em diante em forma de pedras viverão. Neste campo transformado em mar, plantadas para sempre irão ficar! Assim pediram, assim será! Ahahahah...
Dizem que nessa noite, lá na beira da praia de Itaguaçu, o capeta sumiu. E as bruxas lá ficaram com todos os seus convidados transformados nas misteriosas pedras encantadas. Umas grandes, outras pequenas; de todos os tamanhos e formas. Quem duvidar é só passar por lá, de preferência a noite, numa sexta-feira de lua cheia, depois da meia noite. Ahahahah...!