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domingo, 24 de abril de 2011

BATIZADO DO FILHO DA MARICOTA

Autoria: Claudete T. da Mata


Maricota, mulher bem vivida, comprida que nem tripa, levou o filho à igreja para providenciar seu batismo. Ao vê-la entrar rebolando meio desengonçada, com a criança no colo, o padre foi logo lhe fazendo algumas perguntas:

Maricota (Sorrindo): Bão dia padri, tem vaga pra batizá mô fio?

Padre: Sim, sim! Mas, qual é o nome dele?

Maricota: É Maneca! 

Padre: Quantos anos ele tem?

Maricota: Nove mêx! 

Padre: E o seu nome qual é?

Maricota: O meu o senhô já sabe, né padri..., é Maricota. Tá cum milolo froxo, é?

Padre: Você, né, malcriada como sempre. Mas, deixa pra lá e diga o nome do pai da criança?

Maricota: Ai mô Deus, o sinhô me dexcurpa, mas não vô falá não. 

Padre (Irritado): Minha filha, responda logo... Por que isso agora?

Maricota: Tá bão, tá bão, intão eu falo. É o padri Manueli. Pronto... Falei!

Padre (Assustado, de boca aberta) O que, o padre Manoel? Você está querendo dizer que ele largou a batina?

Maricota (Irritada): Não sinhô, ele alivantô ela e sigurô cuns denti... Depox...!

Padre: (Esbravejando): Chega... Venha, vamos até o confissionário que lá poderemos falar melhor sobre isso. Me desculpe, mas está parecendo um insulto.

Maricota (Decidida): Óiaqui sô padri, eu vim aqui pra mode tratá do batizadu du meu fio, e não pra mi confessá, o sinhô intendeu? 

Padre (Mais irritado ainda): Ora, ora... Vamos pra lá antes que eu te desconjure!

Maricota (de mãos na cintura, batendo com os pés no chão): Tá bão, intão vamu. Maix óiaqui, si o sinhô não fizé essi batixmu, eu vô gritá pra todu mundo orví, quem é o pai du meu fio.

Padre (apavorado, entra no confissionário): Feche a boca Maricota, e vamos conversar em silêncio!

Maricora (Levanta irritada, segurando a criança no ombro): Ó! Si o sinhô não resorvê issu logu, eu vô começá a contá: um, dox...

Padre (apavorado, suando frio): Pare, pare... (Sussura para si mesmo) Minha nossa, se esse povo sabe quem é o pai desse menino, o pobre padre Manuel nunca mais vai poder levantar a batina... Quero dizer, rezar a missa.

Maricota (Ouvindo o sussuro, sorridente e sarcástica): Ah é..., né padre, ainda maix si essi povu todu ficá sabendu du seu probrema de sanambulixmo, né? Maix falando nissu, aquela batina, aquela qui o sinhô dexô na noiti passada lá im casa, si alembra? Já tá lavada, viu padri? I óia, daqui uns seti mêx, já vai tá nescendu otro bacurizinhu. Aí, vô tê qui percurá otru padri pra modi batizá u coitadinhu.

Padre (Ofegante): O quê...? Comigo não!

Maricota (Satisfeita, passa a mão na cabeça da criança.): Intão, padri..., vai ô não vai saí o batizadu?


Maricota, olha pela tela do confissionario e vê o padre assinalando SIM, de olhos esbulhados, tremendo que nem vara verde. Assim que ela sai, o padre passa as mãos na testa e cai durinho, durinho.