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segunda-feira, 2 de maio de 2011

BANHO DO PADRE ZEZO




Autoria: Claudete T. da Mata

Era sábado, dia especial no Convento da Vila das Irmãs Paparicas, um lugarejo escondido nos confins da Terra, com um jardim bem cuidado, crivado de flores de todos os tipos e cores.

Era um dia especial - "Dia do banho do Padre Zezo", um velhinho muito querido pelas irmãs, beirando os 100 anos de pura lucidez. O querido velhinho era portador de artrose e artrite; dos dedos das mãos até os dedões dos pés... Pobre Padre com as suas articulações fracas, coitadinho.

Justo nesse dia, o buchicho no Convento, era que a Madre Superiora, acostumada a dar banho no Padre desde a sua juventude, estava com a coluna travada, por isso ordenou que jovem Irmã Jordete, fosse imediatamente preparar o banho do seu amado Padre.

A jovem Irmã, observadora como sempre, ao perceber o estado da Madre, foi logo preparando tudo (água, as toalhas,  as roupas...), exatamente do jeito que o velho Padre gostava. Tudo isso, sem saber que nesse dia, ela cumpriria uma missão importante, devendo obedecer à seguinte instrução da Madre Superiora: 

__Primeiro você jamais deve olhar para o corpo do Santo Padre; segundo, deve fazer apenas o que ele lhe pedir, entendeu?

__Perfeitamente Madre!

Mas assim que o Santo Padre avistou a jovem freira, foi logo lhe pedindo:

__Filha, venha cá... Primeiro, se ajoelhe e reze... Isso, isso! Agora prociga...

Irmã Jordete foi logo obedecendo a voz da razão, sentindo no peito e na alma aquela sensação de dever cumprido.

No dia seguinte, a Madre Superiora, ao avistar Irmã Jordete, foi logo perguntando: 

__Irmã Jordete, e o banho de ontem, transcorreu tudo bem?

Pobre Irmã Jordete, sem saber o que aconteceu, ou seja, na enrascada que se meteu, foi logo respondendo orgulhosamente:

__Madre, nem lhe conto!
__Pois me conte tudo!
__Depois do banho do Padre, eu fui salva.
.__Irmã Jordete, Irmã Jordete... Salva, como? Não entendi! 
__Madre, você vai entender já, já, preste atenção: quando o Padre Zezo estava todo ensabonetado, pediu que eu enxaguasse as suas partes... 
__Que parte?
__Aquelas, lá...
__Quais?
__Calma, calma, depois lhe falo. Enquanto eu estava tirando o espumaredo de suas costas, o Padre foi guiando minhas mãos com as suas mãozinhas trêmulas, bem devagarzinho, para o meio das suas pernas trêmulas...
__O quê?
__Sim, então ele disse com a sua vozinha ofegante, coitadinho:
__Filha, é aqui que se guarda a chave do Paraíso, sabia?
Apavorada, a Madre falou alto e pasma:
__O quê? Eu não podia ter me encamado esse tempo todo, justo nesse dia.
__Calma Madre, calma!
__Tem mais?
__Sim, sim... Eu fechei os olhos e nem acreditei na graça que estava recebendo. 
__Que Graça?
__Então, não é que ele disse que a fechadura estava comigo, e que se aquela chave coubesse em minha fechadura, os portões do paraíso se abririam para mim?
__Não!
__Sim senhora, ele afirmou que eu receberia a salvação e a paz eterna.  
__O quê?
__Sim senhora! Foi aí que o Padre Zezo colocou a chave do paraíso na minha fechadura. 
__Jura, e foi bom?
__Juro! Primeiro senti  uma dor horrível, mas o padre disse que o caminho da salvação é mesmo doloroso, e que a Glória do Senhor iria encher o meu coração de êxtase. Como a senhora vê, eu fui salva!
__Salva é? Safado! (Berrou furiosa.) 
__Por que, Madre?
__Porque há mais de trinta anos, ele me diz que aquilo que ele carrega entre as pernas, é um apito de chamar anjo?
__Jura?
__Por que eu mentiria? Saia já daqui sua descarada, traidora... Vá agora mesmo para a capela, e reze o terço 100 vezes de joelhos sobre grãos de ervilhas..., que são mais macios (falou para si).
__Mas, Madre eu só fiz o que me mandaram. Diga-me, onde foi que errei?
__Irmã Jordete, Irmã Jordete... Não se faça de vítima, muito menos de boba. Você acha correto, eu ter passado todos esses anos, banhando o Padre Zezo, e só agora é que ele resolve mostrar a chave do céu e justo para você?
__Mas Madre, jamais imaginei em toda a minha vida, ser a escolhida. A senhora não acha que estava escrito, já que foi você mesma a me mandar banhar o pobre Padre?
__Pobre Padre coisa alguma. Eu..., eu sim é que deveria ser a escolhida, que passei minha juventude cuidando da minha fechadura... Pra quê? Pra você chegar com a sua e ser a escolhida, e ainda chama isso de justiça?
__Mas Madre, então por que fui mandada banhar o Padre, justo no dia da grande revelação... Justo no dia em que a senhora não poderia fazê-lo. Será que você não esteve todo esse tempo, fazendo a coisa errada no momento certo?
__Isto é um insulto, saia já daqui. E tem mais, vá pagar a sua penitência, na solitária!
­­­__O quê? Tudo bem, mas eu ainda não falei o pior!
__Ainda tem mais?
__Tem... É que após ter colocado a chave em minha fechadura, o Padre Zezo, falou umas palavras estranhas, deu uns gemidos e morreu!
__Morreu?
__Sim!
__Pois essa, eu quero ver bem de perto!
Furiosa, a Madre Superiora sai correndo até o quarto do Padre, com um travesseiro empunhado, e com a língua trancada entre os dentes, ao abrir a porta do quarto, se assustou com o que viu. Nesse momento, a Madre gritou e cai morta.

As outras freiras foram chegando e desmaiando uma sobre a outra, cobrindo a Madre. Até Irmã Jordete entrou na pilha, restando apenas o Padre Zezo que se ajoelhou, olhando cada uma delas, e falou com a vozinha trêmula:
__Minhas irmãzinhas..., não façam isso comigo não. O que aconteceu, justo agora que ganhei o Paraíso?