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sábado, 14 de maio de 2011

O CASAMENTO DA BARATA


Releitura: Claudete T. da Mata

Certa vez uma barata que passava o tempo limpando a casa, varrendo daqui e dali, ouviu um barulho estranho, e não é que a danada da barata encontrou uma moeda de ouro?

Sem acreditar no que vira, Dona Barata gritou:

__Viva! Viva! Estou rica, rica! Riquíssima! Agora sim, posso casar com alguém importante!

Dona Barata, queria ter vida boa, mas antes precisaria realizar um sonho: Casar o mais rápido possível, com um sujeito elegante, bonito...

Decidida como sempre, a nova ricaça, foi ao melhor cabeleireiro da cidade, ajeitou a carapuça e colocou um laçarote vermelho no cabelo. Depois foi às compras, levando para casa um vestido preto, de rainha, comprido com longa calda, todo crivado de pedrinhas.

Depois das compras, Dona Barata pegou o restante do dinheiro e guardou numa caixa a sete chaves. Certa de que seu tesouro estaria bem guardado, ela foi para a janela e cantarolou bem alto, para que todos a ouvissem:

“Quem quer casar com a Dona Baratinha, que tem fitas no cabelo e dinheiro na caixinha?”

Bem longe dali, um rato espertalhão, ouvindo a tal cantoria, se pôs a imaginar o tamanho do tesouro da Dona Barata:

__ Este tesouro deve ser uma belezura daquelas, caso contrário, por quê a Dona Barata estaria assim toda feliz, dando uma de cantora?

Pensando assim, o rato saiu da toca, correndo, até a casa da Dona Barata, e aos berros respondendo:

__ Eu caso! Eu caso! Pode contar comigo.

Acontece que o rato, além de pequeno, tinha uma vozinha muito fraca, tão fraca quanto o piado de um pinto. Tanto, que a Dona Barata nem conseguiu ouvi-lo.

Nisto, chegou o cachorro se coçando todo, com o latido forte e rouco, dizendo:

__ Au! Au! Au! Eu caso! Au! Au! Au! Eu caso!

Dona Barata, assustada com o latido do cachorro, foi logo respondendo:

__ Nada disso, com você não caso não, mas nem pintado de ouro! Com esta barulheira toda, como poderei dormir? Isso, sem falar nessa coceira toda. Eu, nem pensar!

Humilhado, lá se foi o cachorro com o rabo entre as pernas.

O rato, vendo no que deu a resposta da Dona Barata ao cachorro, insistiu outra vez:

__ Eu aceito casar com você!

Mas... O elefante grandalhão, pulou na frente do rato, falando com o seu vozeirão:

__ Eu aceito! Sempre achei você um encanto.

Dona Barata, estremecida de medo, e quase surda de tanto barulho, respondeu o mais alto que pode:

__ Ta louco! Com você não caso não. Veja o tamanho do seu nariz...? Imagine só, na primeira inspiração, dormindo do seu lado, serei inspirada pulmão adentro. Nem é bom pensar... Comigo não! Vá, vá, vá...!

Dona Barata se benzeu, e o elefante, desesperançado, foi embora o pobre coitado.

E lá veio o rato, pensando novamente:

__ Dessa vez eu não desisto!

Mas... O gato-do-mato, pulou na frente do rato, milando:

__ Miau! Miau! Miau! Eu caso!

Dona Barata, tampando os ouvidos, assustada com o zunido, respondeu:

__ Não, você não! Veja sua voz quase arrebentou os meus tímpanos!

Ouvindo isso, o gato-do-mato, desanimado, num único pulo, foi embora acabrunhado.

E atrás gato-do-mato, veio o papagaio todo animado:

__ Case comigo! Case Comigo! Case Comigo!

Dona Barata, se agradando da melodia papagaiesca, foi logo pedindo:

__ Gostei! Agora mostre-me o que você mais gosta de fazer!

O papagaio todo faceiro, estufou o peito, arrepiou suas penas, mostrando o que ele mais gostava de fazer:

__ Papagaio Louro! Louro! Louro! Papagaio Louro! Louro!  Louro...!

O papagaio parecia mais um CD arranhado. E Dona Barata, atordoada, no meio daquela repetição, gritou o mais alto que pode, interrompendo o fanfarrão:

__ Eu desisto! Pra mim você não serve. Só imagino você na nossa lua de mel, falando desse jeito sem parar. Não! Não! Não! Comigo nem pensar!

Nisso, vieram outros animais (O cavalo, o boi, o leão, o leopardo, o porco, o zangão, e até o galo garnisé) E a todos, Dona Barata respondeu alto e de bom tom:

__ Me desculpem, não suporto roncos, mugidos, nem relinchos, tenho medo de gritos e zunidos...! Saiam todos daqui. Andem, andem!

Atordoada, quase desistindo da procura, Dona Barata continuou a cantar debruçada na janela, pobre donzela:

“Quem quer casar com a Dona Baratinha, que tem fitas no cabelo e dinheiro na caixinha?”

E ali cantarolando, debruçada na janela, Dona Barata percebeu a presença do rato, todo estafado e tonto de tanto gritar:

__ Eu aqui! Eu aqui! Eu caso! Eu caso!

Ela respondeu, ofegante:

__ Ufa! Finalmente encontrei alguém que não me põe medo E ele é bonitão! Agora sim, eu caso!

E tomada pela euforia, a Dona Barata foi cuidar dos preparativos do casório mais badalado daquele lugar, com tudo cheio de enfeites, todos com roupas novas e muita comilança, a parte da história que o rato mais gostou:

Um panelão de feijão, cheio de costelas, rabos, pés e orelhas de porco, fervendo a todo vapor, deixou o rato zonzo. E bem ali, na frente do panelão, o rato se pôs a esperar..., Parecendo uma eternidade.

O rato, seco de fome, ao ver que a cozinheira saiu para pegar tempero, sentindo o gosto do cheiro, aproveitou para experimentar o gostoso feijoeiro:

__ É agora que darei aquela provadinha! Só uma pela beirinha... E só uma provadinha não fará falta a ninguém! Eheheheh...

E o rato pulando na beira do panelão, todo ansioso, sussurrou:

__ Hum... Vou pegar só aquele rabinho ali... Aquele olhando pra mim. Ele parece delicioso...! E, além disso, aposto que ninguém irá notar a sua falta! Vem rabinha! Vem rabinho...

Pobre rato guloso, distraído e malandro, que sem se dar conta da fervura do panelão, pendurou-se na sua beirada, e mergulhou no feijão.

A cozinheira voltou com as mãos cheias de temperos, jogando no panelão. E com uma colher de pau, ela mexeu o feijão.
Depois da feijoada pronta, sem saber do acontecido, os convidados foram servidos com pedaços do bichinho.

Foi assim que o rato, conhecido por senhor ratão, levado pela gula, teve morte instantânea na panela de feijão.

Pobre da Dona Barata, sem saber do ocorrido, viu no seu futuro marido, o
falecido, um safado fugitivo.

Mais triste ainda em ver seu casamento perdido, e toda aquela festança, Dona Barata lamenta ter enchido a pança da vizinhança.

Mas no dia seguinte, decidida como sempre, Dona Barata abre as azas, se debruça na janela e recomeçar a cantoria:

“Quem quer casar com a Dona Baratinha, que tem fitas no cabelo e dinheiro na caixinha?”