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terça-feira, 13 de dezembro de 2011

AOS MEUS CONTERRÂNEOS, QUE MORAM NOS ESTADOS UNIDOS ATÉ A RÚSSIA

MINHA PERSONAGEM CANDOCA NA TV

Dia 15 de setembro, me apresentei na "TVN Programa Mais São José, Canal 10", onde fui bem recebida com minha personagem Candoca. Olha ela aí com meu amigão Nériton Martins, assistente de produção, e o apresentador Charles Colzani, o qual se divertiu muito com as brincadeiras humorísticas de Candoca.

Foi uma noite especial, onde minha personagem foi bem recebida e solicitada pelo público que se divertiu com a benzedura feita para afastar os olhos grandes sobre o apresentador. Ele ficou satisfeito com a benzedura. Heheheheh...


 Nériton, Candoca e Charles

Após esta apresentação, Candoca retornou ao programas mais tres vezes, com a quarta apresentação em 12 de dezembro/2011, quando encontro outra manezinha, a Vandreca, que seria a última a se apresentar nessa noite. Na terceira apresentação de Candoca, Charles pegou sua sacola de feira e revirou todinha, retirando de dentro dela todos os objetos confidenciais de Candoca, a qual aproveitou para fazer um relato de cada coisa mostrada ao público e ao vivo. Se não me falha a memória, esta foi a apresentação levada ao ar, dia 31 de outubro, uma 2ª feira. Saiu cada causo de dentro da sacola de Candoca.

Até um jacaré pego por um pescador, lá pras bandas do Rio Vermelho, onde o bichinho foi pego e levado pra casa pra ser tratado como animal de estimação. Só que assim que o tal jacaré cresceu, pulou pra dentro do rio da Hercílio Luz e foi parar lá na rua Almirante Lamego, povoada na épóca, pelos imigrantes alemãs, aonde ele se fartou de tando comer galinhas, patas e gansas fresquinhas. Só que depois a culpa caiu sobre os famosos ladrões de galinhas, bem conhecidos na época da virada de Nossa Senhora do Desterro para a atual Florianópolis. Dizem os herdeiros dos tais imigrantes, que colocaram um homem de guarda para proteger os viveiros fartos de animais domésticos de todos os tipos, trazidos do exterior, o qual ao ouvir o cacarejar das galinhas, correu com a arma na mão e viu o tal jacaré com a comprida boca cheia de galinha.


Dia 21 de novembro, fui ao programa sem minha personagem, para uma entrevista com Charles e Claudete. Nessa entrevista falamos sobre comidas típicas dos manezinhos, como por ex. "pirão de nalho", aquele feito com farinha escaldada, próprio para ser degustado com peixe frito e/ou ensopado (uma delícia!), e "pirão de pinto", feito com farinha de mandioca e água fria, muito apreciado pelos antigo pescadores e catadores de berbigão. Até deu vontade de comer peixe frito e peixe ensopado com camarão sobre uma pratada de "pirão de nalho"... Hehehehehe...

No programa de ontem, dia 12.11, Charles, na falta da sacola da feira, pegou a bolsa da Candoca e revirou tudo, tirando outras coisas de dentro dela, cada qual com mais um causo levado ao ar. Candoca levou bolinho de chuva com bananas, enrolado no açúcar com canela. Charles e Nériton, gostaram da surpresa.


VELHO JOÃO: O FILHO DA BRUXA!


Há muitos anos atrás, numa sexta-feira de lua cheia, lá pras bandas do Sertão do Ribeirão da Ilha de Santa Catarina, antiga Nossa Senhora do Desterro, num milharal próximo à praia da freguesia do Ribeirão da Ilha, um saragaço soava longe. Era agito de gente e choro de criança pequena, que parecia miado de gato pequeno, misturado a latidos e ganidos de cachorros. Próximo do local, uma velha benzedeira, que todos chamavam de Sinhá Sissa, assustada acendeu a pomboca e foi até a janela para ver o que se passava. Lá fora, bem longe de sua casa ela conseguiu avistar uns cães do mato a latir sem parar.
- Crux-credo... Elix tão doido, é? Xiiiiiiiiiiiii... Devi sê as marvada dax bruxalhada nas andança noturna, só podi sê mô Deux.
Enquanto a benzedeira assoprou a pomboca e resolveu se deitar após uma reza de proteção contra os atos bruxólicos, um pescador lá fora no mar, ouviu um choro de criança recém-nascida que vinha  de trás de um milharal, em terra firme. O local ficava nos fundos da casa de sua comadre benzedeira que nessa hora já estava a roncar. Era a Sinhá Sissa.
O lugar dava de frente para o mar e lá de dentro de sua canoa, o pescador que era o mais velho entre os outros que o acompanhavam na pescaria, chamou a atenção dos amigos.
- Vancês tão oivindo o queu tô?
Um dos pescadores retrucou enquanto outros riam:
- Tô não cumpadi... O cumpadi que me dixcurpe, maix deve sê cousa da tua baça, visse? Onde já se viu oiví choru dei guri piqueno nessa dixtânça, homi di Deux?
O velho pescador que tinha o costume de perder as estribeiras ao ser provocado, levantou da ponta da gaiuta e falou:
- Poix intão acabou essa pexcaria!!! Vamu todo mundo de vorta pra bera da praia e aí vamu vê se isso é cousa da minha cabeça, visse cumpadi!!!
Como era muito conhecido pelos seus rompantes, que eram de deixar qualquer um sem saída, ninguém quis contrariá-lo e voltaram para ver que choro era aquele que só o velho pescador estava a ouvir.
Ao se  aproximarem do local, seguindo o choro de criança, que ora parecia miado de gato, ora parecia ganido de cachorro, o choro ficava cava vez mais próximo. E, para surpresa de todos, o pescador mais velho, já um tanto irritado, o José Tião, mais conhecido por Zé das Pedras, encontrou no meio do milharal uma criança recém-nascida enrolada em panos velhos, sobre as palhas de milho no meio do milharal.
A criança parecia estar enrolada numa coberta de pluma de pato, de tão quentinha que estava, mesmo que estivesse enrolada num pano velho e rasgado. Era um menino de olhos grandes e cheios de lágrimas que banhavam o seu rostinho miúdo. Ele olhou os pescadores um por um e mostrou um discreto sorriso para um dos pescadores, feito um ser encantado.
Para a admiração de todos, o pescador mais novo do bando pegou o menino e o abraçou fortemente como se já o conhecesse há muito tempo. Os olhos da criança faziam ele lembrar do olhar de uma pessoa muito querida para ele. Foi então que o bando de pescadores fez um grande saragaço.
- Maix veja só genti, não é qui o gurizinho goxtô dele?!
- Sei não - disse outro pescador - inté pareci cum essaí!!!
E, com todos falando ao mesmo tempo e cada um dizendo algo diferente, ninguém percebeu que o menino calou e dormiu tranquilo no colo quentinho do Zezé, o pescador mais novo.
Depois do saragaço veio a calmaria que organizou as ideias dos pescadores que, agora mais calmos, foram à procura de uma solução.
Alguém precisava ver se a criança era menino ou menina.
Foi então que o seu Vivinho, o pescador mais velho de todos, teve a ideia de levar a criança para alguma mulher da redondeza. E, veio à ideia de todos, levar o recém-nascido para a Dona Sissa, aquela que foi até a janela antes do seu Vivinho ter ouvido o choro da criança.
Além de precisar saber se a criança era menino ou menina, eles também pensaram ao mesmo tempo que o recém-nascido deveria ser benzido. E, logo veio à cabeça do Zezé, que a Dona Sissa, que era uma benzedeira de mão cheia.
- Gente, achu que além da genti vê si essa criança é isso ô aquilu, si ela tivé imbruxada vai tê que sê benzida. Intão vamo logu pra casa da sinhá Sissa, vamu?
Dona Sissa, que já estava roncando embaixo das cobertas, acordou e acendeu a pomboca para atender o chamado do seu Vivinho. Ela  pegou a criança e ao ver que era um menino, o olhou da cabeça aos pés... E, sem nada encontrar, fez sobre ele uma reza de proteção, que era assim:
"São Pedro, salva-me bem que me vou.
Jesus Cristo foi Batizado.
Na arca de Noé me meto.
Com as chaves de São Pedro me fecho,
Para que nenhum mal te aconteça.
E tudo quanto perder, apareça.
A Jesus me entrego,
E a Jesus um credo rezo.
Amém!”
Depois desse benzimento, Dona Sissa colocou um "brebe" de proteção no pescoço do menino, para que ele ficasse protegido de todos os males do corpo e da alma. Em especial, contra os atos bruxólicos. Bem sabia ela que as bruxas malvadas gostavam de chupar sangue de criança pequena, fazer nós nos seus cabelos e beliscá-los para fazê-los chorar durante à noite. E, o menino ficou bem protegido. A benzedeira o banhou e lhe deu leite de cabra para ficar forte e enfrentar a vida.
Mas alguém precisava adotar o menino. E quem faria isso? O Zezé que, ao recusar a ideia, ouviu da Dona Sissa:
- Mô fio, agora toma qui ele é teu... O gurizinho vai si dá bem cuntigo, mô fio. Ele é teu, sabiax?
O menino, que parecia entender o que a benzedeira falou, se agarrou no braço esquerdo do Zezé parecendo querer ficar com ele. Por sua vez, ao olhar nos olhos do menino, Zezé soltou uma frase que surpreendeu os amigos.
- Ele vai se chamá João!
Assim, o tempo passou e João já não era mais aquele menino que gostava de brincar com as meninas da vizinhança, soltar pandorga, brincar de bolinha de gude e de carretão morro abaixo lá no alto do Sertão. Nem mais benzia e ia à percaria com os amigos, como fazia desde criança e na juventude. Agora era o Velho João, aquele que nasceu lá nas bandas da praia do Ribeirão da Ilha. Que agora, mais que nunca, já não dava mais ouvidos a quem o chamava de filho da bruxa, certo noite, numa sexta-feira de lua-cheia, acordou de madrugada com um barulho vindo de sua cozinha. E, pé por pé, Velho João saiu de seu quarto, desceu a escada e assustado com o que seus olhos viram, se agachou e congelou bem no meio da escada.
Agachado e agarrado ao corrimão de madeira quase podere, Velho João viu um bando de bruxas na sua cozinha a colocar gravetos no fogão à lenha para cozinhar a comilança e as suas mandingas no maior saragaço. Elas tagarelavam suas tramas bruxólicas, que de tão alto dava de se ouvir lá do outro lado dos confins do mundo.
Nessa noite, as bruxas planejavam uma festa na beira da praia... E, nesse momento, a bruxa mais velha do bando, uma benzedeira muito estranha, falou alto e aos gritos para chamar a atenção da bruxarada:
- Meniiiiinas!!!... Tô sentindo cheiro de homem... Aonde tá a minha vassoura? Vassoura, vassoura matreira, saia já daí sua preguiçosa e veja quem é... Ande logo sua molenga!!!
Nesse instante, a vassoura que estava encostada atrás do fogão à lenha, espionando tudo, saiu correndo, subiu a escada e se meteu entre as pernas do Velho João. E, dando uma rodopiada pela cozinha, a vassoura saiu janela afora. E os dois subiram até às alturas.
E lá se foi a vassoura levando o Velho João, aquele que um dia apareceu chorando lá pras bandas do Ribeirão.
Dizem que a vassoura voou por todo  o Ribeirão da Ilha de Santa Catarina, com o Velho todo desengonçado na sua garupa. Os dois foram até o Centro da antiga Nossa Senhora do Desterro, hoje Florianópolis, e lá das alturas, sobre a velha figueira da Praça XV de Novembro, Velho João viu um bando de crianças em círculo e no meio delas estavam alguns palhaços se apresentavam com suas palhaçadas e as suas estripulias. Eles cantavam, tocavam seus instrumentos musicais e dançavam freneticamente. E a criançada ria, aplaudia e gargalhava.
Lá das alturas, Velho João, ainda tonto e sem prática de voo sobre vassouras, caiu bem no meio dos palhaços e suas travessuras. Foi então, que a plateia riu mais ainda ao pensar que aquilo fizesse parte da palhaçada.
Velho João, que de bobo não tinha nada, saiu dançando feito criança. E, entre o riso da gurizada, ele pulou no meio da roda e dos palhaços e dançou feito criança. Envolvido nesse mágico momento, ele até esqueceu das dores nos joelhos e nas suas costas arcadas pelo tempo. Seus cabelos ralos, pareciam fios dourados banhados pela luz do sol. Parecia estar além dessa noite arrepiante.
Depois de muito pular, cantar e dançar, Velho João sentiu uma saudade louca de seu travesseiro, o seu maior companheiro. Enquanto isso, lá escondida atrás da "velha figueira", a vassoura matreira, ao ver a alegria estampada no semblante da gurizada, beliscou um fiapo de suas palhas e matutou:
- Ah... Velho João, Velho João, chega de brincadeiras... Nunca vi dentro de uma só pessoa tanta felicidade! Meu menino é hora de parar com essas travessuras e voltar para casa. É por isso que...
E mal a vassoura acabou de matutar, saiu em disparada e se meteu entre as pernas do Velho João. E os dois voaram de volta lá para a praia do Ribeirão.
De repente, em casa, Velho João se viu embaixo do colchão, com seu pijama listrado e todo amarrotado. Assustado e agarrado ao velho travesseiro, o seu maior companheiro, o velho matreiro sussurrou de si para consigo:
- Velho João, velho João o que que é isso homem? Já sei, continuou ele - devo tá sonhando demais. Deve ter sido aquela feijoada cheia de gostosuras. E foi coçando a velha careca que Velho João sentiu um arrepio acompanhado de um calafrio que abraçou o seu corpo enrugado. Nesse momento arrepiante, ele segurou o "brebe" e o apertou bem forte ao peito e falando alto, dizendo:
- Jesus, Maria, José... Protejam-me! Amanhã é dia de levantar antes das galinhas e preparar as minhas ervas pra benzer as crianças e quebrar os maus olhados, as arcas caídas... E à noite ainda quero pescar umas tainhotas bem gordas, pra comer com "pirão  de nalho". Esse "conduto" não vai me dar pesadelo. E, nesse exato instante, a janela do quarto se abriu deixando entrar casa adentro uma ventania com cheiro de maresia misturada com enxofre.
Era o Vento Sul que varria tudo o que via pela frente.
Além do vento algo puxou a barra do pijama de Velho João, que imediatamente, num só pulo, enfiou-se embaixo do colchão. E, lá fora da casa, uma voz dizia alto e em bom tom:
- Velho João, Velho João... Agora ouve tua mãe, aquela te deixou nascer lá no meio do milharal da praia do Ribeirão... Dizi ax fofoquera, que éx fio de bruxa, maix não liga não mô fio, i durma im pax qui eu também ti proteju!!! Purissu tu nunca caisse da vassora quandu avuavax cum ela, ti alembra? I óia qui mi dessi um monti de netu bem bunitu, vissi? Ahahahaha...
E essa risada ficou para sempre na cabeça do Velho João, o filho da bruxa. E sua história ficou na memória de algumas pessoas de sua família, lá do Sertão do Ribeirão da Ilha da Magia de Santa Catarina.

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Autoria de Claudete Terezinha da Mata. Conto que faz parte da sua vivência e elaborado textualmente, em 2007, após ter participado do curso de formação de contador de histórias pelo SESC/Prainha, com Cléo Busatto - história narrada nesta data na Feira do Livro em Palhoça/SC, num jogo de improviso com a escritora Inês Carmelita Lohn. Querido leitor, tenho o hábito de escrever este conto depois de cada apresentação, uma forma de preservar as minhas vivências na Ilha onde nasci, fui criada e educada, aprendi a andar, tive meus dois filhos e onde me tornei uma contadora de histórias e escritora da memória. Um dia ainda conseguirei editar este meu conto.
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A benzedura feita nesta criação é considerada um "responso" que faz parte das orações populares rezadas aos santos para que nenhum mal nos aconteça e também para que possamos encontrar coisas extraviadas ou perdidas. Mas a que sempre rezo nas contações de histórias é outra porque ainda não consegui memorizar esta. O "brebe" é um saquinho com ervas bentas, feito pelas benzedeiras que colocam no pescoço das pessoas como um amuleto de proteção. O pirão de nalho, de origem indígena e mantido pelos açorianos, é o conhecido pirão feito farinha de mandioca e água fervente para deixá-lo bem escaldado. Os antigos também faziam o pirão de pinto que era feito com a mesma farinha e água fria. Eles também faziam pirão de café fervido para comer com peixe frito e outros condutos (berbigão, peixe, camarão e carne seca, todos ensopados sobre o pirão).

Endereço do Filho da Bruxa: Casa de madeira a beira do Ribeirão, coberta de musgos, sem pintura, com um velho a espiar e uma velha a gargalhar: "Ahahah..."

Autoria textual: Claudete T. da Mata

Acabei de retirar as fotos com a escritora Inês Carmelita Lohn que ligou para mim de madrugada e exigiu que eu retirasse o conto e as fotos do blog, porque ela não me autorizou a postá-los. Sendo o conto de minha autoria, retirei as fotos com ela e deixei meu coto que foi usado na Feira do Livro de Palhoça, num jogo de improviso a convite da escritora Inês. Aceitei a brincadeira e ao chegar em casa, organizei mais uma vez o meu conto e postei para que todos possam ler e se divertir um pouco. (Claudete T. da Mata)