Certa vez, um velho sábio,
assim batizado por mim, me falou: - Minha pequena, não se sabe até quando a Mãe
Terra irá parar de produzir o barro que tanto te inspira. De repente, parei e
procurei pensar sobre o que fazer se vejo nas mãos da Mãe Terra toda minha
inspiração. Moldar o barro com as mãos,
e dele produzir formas que retratam histórias que ficarão na memória. São formas
capazes de encantar pessoas. Mas a Mãe Terra sente que não sou oleira por
tradição, e sim por vocação.
Fui uma menina sapeca e uma
adolescente sonhadora que ensaiava os primeiros passos com as mãos moldando o
barro. O tempo passou e ainda continuo aprimorando o gosto pelo trabalho dando
continuidade à cultura daqueles que aqui chegaram, lá de Açores. E na confecção
com o barro, exercito minha memória com personagens chamados formas. Segundo a
velha tradição, surgiu a bernunça que lembra o bicho-papão, a dona Maricota
mulher comprida e desengonçada, um pé de valsa, o urubu do Boi-de-mamão...
Entre outras formas que foram surgindo ao longo da história.
Ficar sem moldar o barro é o
mesmo que ficar sem comer. Meu corpo padece por sua falta. Fico inquieta porque
meu corpo reclama pelo alimento e eu não posso ficar sem comer. Que a Mãe Terra
perdoe tamanha fraqueza, mas já não consigo mais ficar sem o barro que
concretiza meu imaginário. Ontem eu era só uma menina que brincava com o barro
vermelho feito lama da chuva, moldando meu imaginário que secava ao sol,
rachando todinho. Diferente de ontem, hoje aprendi as técnicas de secagem até a
queima do barro no forno à lenha e elétrico. Eu que diferente de todos da minha
família, fui aluna de oleiro e tomei gosto pelo trabalho, agora mais
aperfeiçoado. Por isso, quero continuar te moldando Mãe Terra!
Hoje sou casada, mãe de um
casal de filhos já adultos. Tenho minha oficina com um forno elétrico. O que
mais uma mulher oleira necessita para exteriorizar e retratar seu imaginário?
Só não aprendi a trabalhar
na roda, onde as peças utilitárias são feitas como num passo de mágica. Mas faço
minhas peças utilitárias, panelas, canecas, pratos e fruteiras, com a técnica
indígena dos rolinhos, chamados rodelados.
Sabe-se que na atualidade,
muitos oleiros não conseguem tirar do ofício o sustento diário. Certos de que
nas épocas festivas, conseguem vender suas peças em maior quantidade, os
oleiros produzem peças em série, durante o ano. Fora disso, resta aos artesãos
do barro, expor suas criações em museus, eventos comemorativos, feiras
culturais e artísticas.
Querida Mãe Terra, só nos
resta confiar na Tua bondade. Continue nos dando o barro nosso de cada dia, que
só tu és capaz de produzir. Perdoe o nosso jeito de ser e ter, e que Deus
continue te mantendo bem juntinha de nós!